quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O que são Filmes de Série B?


Filme B é um termo usado originalmente para se referir a filmes de Hollywood destinados a serem a “outra metade de uma sessão dupla, que geralmente apresentava dois filmes do mesmo gênero (faroeste, gangsters ou horror).
Nos tempos dos maiores estúdios de cinema, essa terminologia era oficialmente usada para este fim, que também forneceu a nomenclatura de atores “A” ou “B” (Ronald Reagan fez carreira atuando em filmes B). As principais produtoras tinham unidades próprias para esse tipo de filme, mas também havia pequenos estúdios como PRC, Consolidated, Ajax, entre outros, que se especializaram em fazer filmes B.
Esses estúdios eram referidos como pertencentes ao Poverty Row (Cinturão ou linha de Pobreza), termo usado para designar coletivamente as companhias localizadas numa região de Hollywood chamada Gower Street, que produziam filmes com orçamentos extremamente reduzidos.
A partir de 1931, o cinema holywoodiano começou a sentir os efeitos da Grande Depressão de 1929, através da queda do número de espectadores. De 80 milhões de espectadores em 1930, a queda para 55 milhões em 1932 provocou o fechamento, em 1933, de um terço dos cinemas estadunidenses, além da diminuição progressiva do preço dos ingressos. Aliado a estes fatores, o custo dos filmes falados era mais elevado, o que aventou a possibilidade de falência de muitas companhias cinematográficas.
Numa tentativa de evitar a falência, as 5 maiores companhias da época se reorganizaram, de forma integrada e interdependente, em uma associação comercial denominada MPPDA (Motion Picture Producers and Distributors of América), que dominava conjuntamente o mercado cinematográfico através da produção, distribuição e exibição de cinema. As cinco companhias eram a MGM, Paramount, Warner Brothers, 20th Century Fox e RKO Pictures. Em torno delas giravam outras menores como a Columbia Pictures, a Universal Pictures e a United Artists, que eram de porte médio, além de algumas semi-independentes, como as de Walt Disney, Samuel Goldwyn, David O. Selznick entre outras.
Os exibidores independentes, na tentativa de aumentar a frequência, começaram a usar várias estratégias, tais como o oferecimento de “duas entradas pelo preço de uma”, “sessões gratuitas para senhoras”, “prêmios”, e finalmente, desenvolveram o “programa duplo”, com a apresentação de dois filmes pelo preço de um, partindo daí o conceito de “filme B”. Assim, as grandes companhias, vendo-se obrigadas, mediante as exigências do público, a aderir ao programa duplo, ofereciam geralmente a exibição de um filme principal classe A, e um filme mais barato, classe B. Os filmes B das grandes companhias supriam as necessidades de exibição de suas cadeias de cinema, além de ajudar a cobrir as despesas gerais. Enquanto os filmes A custavam em torno de 400 mil dólares, e possuíam duração de 90 minutos ou mais, os filmes B tinham o custo entre 50 e 200 mil dólares, e a duração entre 55 e 70 minutos. Tal estratégia influenciava a política de preços, pois enquanto os filmes A tinham uma receita imprevisível, dependendo de sua aceitação, os filmes B tinham uma previsibilidade de lucro garantida, auxiliando o planejamento orçamentário das companhias.
Os filmes B eram direcionados, em sua grande maioria, para cinemas e público específicos, o que se percebe, em particular, com os Westerns, direcionados ao público infanto-juvenil das matinês. A proliferação dos westerns, nos anos 1930 e 1940, correspondeu à sua popularidade junto ao público jovem. Frederick Elkin observou que westerns B agradavam predominantemente às crianças, e que elas “participavam deles ativa e emocionalmente”, o que garantiu a produção de dezenas de séries e seriados, com personagens padronizados, característicos e comuns a vários filmes, além de enredos pré-determinados dentro da expectativa dessa faixa etária.
Nos anos 1930, portanto, os westerns B dominaram o gênero e, apesar de terem sido filmados com fórmulas simplórias, sob a preocupação única de agradar ao público, muitos deles foram realizados com valores de produção e boas sequências de ação.
Após a Segunda Guerra Mundial, com as transformações econômicas e socioculturais ocorridas nos Estados Unidos, além do advento da televisão, o hábito de frequentar o cinema diminuiu, refletindo na indústria cinematográfica. Segundo Mattos, “a concorrência da televisão e os processos de tela larga incitaram os grandes estúdios a produzirem superespetáculos (...) Não obstante, o espirito do filme B perdura até hoje”.
Atualmente os filmes B transformaram-se, de certa forma, em objeto de culto, em parte pela realidade de seus valores estéticos “kitsch”, em parte pela despretensão de qualidades técnicas e artísticas, numa época desprovida de recursos mais elaborados. Mattos cita como exemplo dessa mudança de visão crítica os filmes de Edward D. Wood, Jr., produzidos na década de 50, que acabaram por reduzi-lo, através da crítica, no pior diretor do mundo. Wood morreu pobre e alcoólatra, no ostracismo, em 1958, mas seus filmes foram “redescobertos” por fãs que encontraram na sua engenhosidade primária e ruim um motivo de admiração e surpresa, tornando-o postumamente notório.
Hoje, o termo Filme B passou a ser usado para se referir a qualquer filme comercial de baixo orçamento, com atores pouco conhecidos ou em decadência. Esses filmes podem ser malfeitos em muitos casos, mas ainda assim se distinguem dos chamados Filmes Z, por serem produzidos profissionalmente e pela sua viabilidade comercial.
Fãs de filmes B afirmam que orçamentos mais limitados e menor ingerência dos estúdios podem ajudar a gerar uma energia não encontrada em superproduções. Isso foi verdade especialmente nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. Enquanto filmes caros, como O Maior Espetáculo da Terra (The Greatest Show on Earth, 1952, Paramount) e A Volta ao Mundo em Oitenta Dias (Around the World in Eighty Days, 1956, United Artists) eram convencionais e sem criatividade, filmes B como O Monstro do Ártico (The Thing From Another World, 1951) e Veio do Espaço (It Came From Outer Space, 1953) possuiam energia e originalidade. Muitos filmes B, especialmente nas áreas de ficção científica e horror, ainda são muito populares.
Uma das produtoras clássicas de filmes B era a americana American Internation Pictures (AIP), fundada em 1956 por James H. Nicholson e Samuel Z. Arkoff. Entre os filmes da produtora estavam os trabalhos de Roger Corman, Vincent Price, Herman Cohen e os primeiros dos então desconhecidos Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, Robert De Niro, James Cameron, Joe Dante e Jack Nicholson.
Na década de 1970, produtoras como a Independent-International Pictures, Film Ventures International, Charles Band Productions, Cannon Films, New Line Cinema, Golan-Globus, entre outras, partiram para a criação de uma nova geração de filmes B.
A maior parte dessas companhias foi incapaz de sobreviver aos anos 1980, já que até mesmo um filme a princípio modesto, com imagem de baixa qualidade, acabaria por consumir milhões de dólares, tendo em vista as expectativas do público quanto aos efeitos especiais, trilhas sonoras, bitolas etc.

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